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Malba Tahan

Celebramos hoje, no dia seis de maio, o Dia Nacional da Matemática, comemorado em homenagem a Ali Iezid Izz-Edim ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan — pseudônimo de Júlio César Mello e Souza, notório matemático, escritor e educador brasileiro.

Aproveito para contar uma história. Não minha, mas de meu avô.

Há cerca 70 anos, meu avô era avaliado por Malba Tahan em uma prova oral de Matemática para ingresso na então Universidade do Brasil. Eram dois avaliadores. O primeiro solicitou a demonstração de um teorema. O segundo — o Malba! — perguntou-lhe: “Você acredita na possibilidade de uma viagem para a Lua?

Desígnio divino! Meu avô, à época fissurado no tema, não perdia uma sessão de cinema nas embaixadas americana e russa, que com frequência costumavam transmitir filmes de astronáutica. Lia tudo que fosse publicado no país relacionado ao assunto. Então, como costumamos dizer: lavou a égua.

Apesar da excelente resposta à pergunta do Malba, meu avô terminou por deixar o primeiro avaliador sem resposta; porque, em suas próprias palavras, “não fazia a menor ideia de como demonstrar aquilo!”. Mas o Malba, ou melhor, o Júlio, gostou tanto de sua resposta que, percebendo a dificuldade — mas reconhecendo também o potencial — acabou lhe aprovando e, de quebra, ainda resolveu ajudá-lo: ofereceu-lhe, gratuitamente, aulas particulares de matemática; toda semana, em sua casa. Foi aí que meu avô passou a frequentar a casa do Júlio.

Júlio tinha em sua casa uma gaveta repleta de pequenos amuletos de sapo. Um monte de pequenas esculturas de sapo! Meu avô, olhando para aquilo e achando estranhíssimo, resolveu perguntar: “Júlio, por que você coleciona todos esses sapos?”; ao que ele respondeu: “Não coleciono. Certa vez me deram um sapo de presente. Um segundo amigo viu, achou interessante e resolveu me dar também um outro sapo. Daí, todos começaram a achar que coleciono sapos; começaram então a me dar sapos. Foi aí que descobri que odeio sapos.

Esse era o Júlio.


Em seu site oficial, mais relatos sobre a sua relação com os sapos — aparentemente herdada de sua infância.

Segundo diferentes relatos, o menino Julinho, como era chamado, era uma criança de muita vitalidade e imaginação. Inventivo e travesso, seu brinquedo predileto eram os sapos do quintal e da beira do Rio Paraíba. Aos sapos mais bojudos dava nomes solenes de “Monsenhor” e “Ilustríssimo Senhor”. Pequenino, brincava de dar aulas a uma turma de sapos e de conduzi-los com uma varinha. A lembrança da alegria com os sapos de sua infância tornou-se célebre. Quando adulto, muitos amigos e admiradores passaram a presenteá-lo com réplicas de sapos em louça, madeira, ferro, jade e cristal. Certa vez, perguntaram ao ilustre professor Mello e Souza, porque ele gostava tanto dos sapos. Omitindo sua diversão de criança, respondeu: “Gosto dos sapos porque são discretos e bondosos. Por de trás daquela feia carranca, daquele corpo frio e repelente, são criaturas verdadeiramente úteis e inteligentes”.

Humor à parte, Júlio, na verdade, amava os sapos.


Malba Tahan